Este blog tem a finalidade de analisar e discutir acontecimentos jornalisticos do cotidiano.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A IMPRENSA E SUA PRESSA

Todos os dias tentamos buscar respostas para o péssimo tratamento que nós brasileiros recebemos no exterior. O recente episódio de negação de entrada e repatriamento de cerca de 30 brasileiros no aeroporto de Barajas, em Madri, não é único e nem sequer um fenômeno atual. Ao contrário, os brasileiros têm recebido um tratamento discriminatório, cruel e desumano há mais de 18 anos, nos principais aeroportos do mundo. Nos últimos tempos, incidentes como o de Madri acontecem com frequência em Londres, Paris, Lisboa, Roma, Nova Iorque, Miami e em outras grandes cidades do mundo.

Talvez isso explique o sentimento de revolta toda vez que nos deparamos com notícias que envolvam brasileiros no exterior, mesmo que nem sempre elas sejam repletas de verdade absoluta. Nosso patriotismo e espírito de justiça nos leva a crer que todos os brasileiros que se envolvem em situações desconfortáveis em outros países, estão certos, justamente por sermos tão injustiçados e discriminados perante outros povos.

O caso da advogada pernambucana Paula Oliveira, de 26 anos, que mora na Suiça, não foi o primeiro e nem será o último de tantos outros episódios das graves falhas, ou “barrigadas” da imprensa brasileira, como nós jornalistas costumamos chamar.

No início desde mês, a brasileira que mora na Suíça disse a polícia que foi agredida por um grupo de neonazistas quando saía de um metrô na cidade de Zurique, e que por causa do ataque acabou abortando os gêmeos que esperava. Ela chegou a ligar para os familiares no Brasil para dar a notícia.

Um jornalista bastante conceituado, ao ter contato com o pai de Paula, o também advogado Paulo Oliveira, simplesmente acreditou em sua versão e sem apurar mais nada acabou publicando em seu blog o seguinte furo (notícia em primeira mão): "Brasileira torturada na Suíça aborta gêmeos". Tomando o fato como verdade absoluta, os jornais de todo o país repassaram a informação, sem apurar com o blog, e muito menos com correspondentes na Suíça.

Dois dias depois, Paula Oliveira confessou ser tudo armação. Não existiu agressão, muito menos gravidez.

Em 2001 os médicos descobriram que ela sofre de uma doença chamada Lupus, e que isso pode ter afetado no comportamento da advogada. "As vezes ela tinha perda de memória”, disse a avó de Paula em entrevista ao Fantástico.
A imprensa acabara de cometer um grave erro. E agora? Cabe a nós continuar acreditando em nossos veículos de informação? Que valores nós, futuros jornalistas devemos levar? Esse é o exemplo que devemos seguir dos nossos colegas de profissão, que há anos praticam o jornalismo? Fica ai a pergunta no ar.

O jornalista deve procurar sempre cumprir o seu valor social, que é informar, e não viver de sensacionalismos baratos, que, diga-se de passagem, geram lucros e muita audiência. Será que no mundo capitalista em que vivemos, até a informação de um fato do cotidiano merece essa espetacularização toda ao ponto de fazer com que o Brasil ameaçe levar um caso como este ate a ONU? O que a imprensa brasileira fez foi gravíssimo, podenso ter causado um enorme vexame diplomático entre os dois países. O presidente Lula e o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim agora devem estar com o rabo entre as pernas, simplesmente por confiarem na imprensa brasileira, que não checou a veracidade das informações sobre o possível ataque a advogada na Suiça.

Outro episódio que manchou bastante a imprensa brasileira foi O CASO ESCOLA BASE. Quem não se lembra? A história virou até um livro, que, hoje em dia tornou-se de fundamental leitura em quase todos os cursos de jornalismo no Brasil.

Será este o preço que pagamos pela avalanche de informações que estamos sujeitos no mundo tecnológico de hoje? mundo este onde os acontecimentos do outro lado do oceano nos chegam em questão de segundos? Os blogueiros e jornalistas de portais online que o digam, pois são os primeiros veículos a publicarem as notícias que chegam de toda parte do planeta. Até quando a população terá que conviver com tais profissionais, que usam da falta de ética no jornalismo para darem o furo e se beneficiarem com a instantaneidade da informação?


Com tudo isso, eu finalizo com a seguinte frase atribuída aos jornalistas:


"A sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor."
(Alberto Dines)


leia também:

Análise da fraude de Paula Oliveira
Itamaraty oferece ajuda para tirar Paula Oliveira da Suíça

vídeo: entrevista com Ricardo Noblat, jornalista que deu
o "furo" de reportagem no caso Ana Paula

veja também: video mostra com ironia as
barrigadas
da imprensa brasileira